A Índia, definitivamente, não foi um país que nos encantou. Não fomos "pegos de surpresa" pela extrema pobreza escancarada nas ruas, a sujeira e poluição, o trânsito caótico, a falta de higiene no preparo dos alimentos; estávamos mais do que cientes de tudo isso e preparados para encarar uma realidade bem diferente da nossa e do que vínhamos encontrando até então. Mas, ainda assim, fomos surpreendidos quando chegamos... e não foi positivamente!
A Índia não se mostrou o país acolhedor que imaginávamos. Na maioria das vezes os indianos estavam com cara fechada e poucas palavras, tínhamos certa dificuldade para conseguir informações quando precisávamos de alguma (isso quando não davam a informação errada e te mandavam para alguma loja ou comércio, onde ganhavam comissão por enviar um "cliente"!) e por diversas vezes tentaram nos aplicar golpes ou enganar, especialmente os taxistas! Na volta para o Aeroporto, quando estávamos saindo do país, por exemplo, pegamos um táxi às 03 da manhã, previamente pago no hotel. O taxista não só tentou nos cobrar novamente, como queria nos levar para "fazer compras" naquele horário e, chegando ao aeroporto, teria deixado-nos no terminal errado (se não estivéssemos atentos), só por que era mais perto!! Aliás, todas as vezes que precisamos pegar um táxi na Índia, foi uma aventura! Lá foi, também, o único país dos 32 que visitamos em que sofremos tentativa de furto... ainda bem que nada aconteceu e ficamos bem!
A educação também não é uma virtude por lá! Furar filas é hábito comum, assim como é na China, e sujar as ruas é quase um ato religioso! Sim, não estou exagerando nem sendo irônico, explico : como todos sabem, na Índia os porcos e especialmente as vacas são animais sagrados e podemos encontrá-los passeando pelas ruas (e muitas vezes dormindo no meio delas) mesmo nas grandes metrópoles como Nova Délhi. Os comerciantes consideram um sinal de grande sorte e prosperidade se algum deles resolve parar em frente ao seu estabelecimento... é lucro certo!
Sendo assim, os indianos jogam todo seu lixo na rua na expectativa de que alguns desses animais dê uma paradinha na frente da sua loja e atraia muitos clientes... acho que dá para imaginar o resultado desse raciocínio em um país com mais de 1 bilhão de habitantes!! A sujeira é realmente muito, muito grande e o hábito que os indianos tem fazer suas necessidades (número 1 e número 2) nas ruas não contribui para melhorar... O cheiro só não é insuportável porque há incensos por toda parte!!
Por falar em deuses, outra decepção nossa no país foi relacionada à religião. Aquela imagem de país místico e religioso, que tínhamos antes de chegar por lá, perdeu-se no primeiro momento em que vimos os dalits jogados em frente aos templos sendo completamente ignorados pela grande maioria da população; com muita sorte um ou outro jogava um pão ou uma moeda no meio deles... a religião na Índia virou uma forma de segregação econômica e social que está muito enraizada e contribui muito, ainda hoje, para fazer deste um dos países mais ricos do mundo e ao mesmo tempo um dos mais miseráveis em termos de desenvolvimento humano. Isso sem falar que na região norte, onde fica Délhi, ainda há uma forte disputa entre os muçulmanos e os hindus.
Já que o tema é religião, podemos dizer que as atrações mais interessantes na cidade são relacionadas ao tema. Começamos nosso "rolê" pela capital indiana na maior mesquita do país, a Jama Masjid. Localizada próxima a outra atração da capital (a Fortaleza Vermelha), este é um belíssimo exemplo da arquitetura que domina o cenário na Índia, a arquitetura persa. Lembrando muito mais os mausoléus indianos, esta mesquita tem os elementos tradicionais islâmicos como os minaretes, misturados aos detalhes típicos das construções dominantes na Índia e a coloração vermelha, espalhada por toda aquela região. Mesmo não sendo o local mais limpo do mundo, lá você não pode entrar com sapatos e deve cobrir as pernas e ombros... bom, eu e a Pati ficamos de meia...Bem próximo dali fica outra atração da cidade, menos turística, mas mais interessante : a velha Délhi e o mercado de especiarias.
A capital tem esse nome (Nova Délhi) justamente por que existe uma velha Délhi, que nada mais é que a região central da cidade, onde tudo começou. Ruas muito estreitas, repletas de gente por todos os lados, cabos de telefone e de eletricidade formando verdadeiras teias dominando o pouco espaço aéreo existente entre os antigos e destroçados edifícios, a tradicional sujeira nas ruas misturada a oferendas e "patuás" em frente aos inúmeros estabelecimentos comerciais... enfim, não parece ser um local muito "turístico", mas foi muito bom para sentir a Índia como ela realmente é.
Seguindo por estas ruas estreitas, chegamos ao mercado de especiarias de Chandni Chowk, um dos mais antigos do mundo (segundo o que dizem por lá), o mercado da velha Délhi. Trata-se de uma rua repleta de ambulantes e lojas vendendo a mais diversa sorte de temperos, frutas, sementes, ervas, enfim, tudo aquilo que nos proporciona até hoje um upgrade no sabor das nossas refeições. Para variar, a higiene não é o forte do local. Inúmeras moscas permanecem tranquilamente repousadas sobre sementes de cardamomo, tâmaras e algumas ervas aromáticas. Há, aliás, um mictório a céu aberto ao lado das barracas. O cheiro só é tolerável por que há grande quantidade de incensos acesos por todos os lados.
Seguindo um pouco mais adiante e chegamos na atração que foi, na nossa opinião, a experiência mais interessante na capital, a visita ao templo Sikh de Gurudwara Bangla Sahib, o maior da capital e um dos mais importantes no mundo para os seguidores desta religião, que possui uma das maiores quantidades de seguidores em todo o mundo. Para quem não está familiarizado, esta religião é resultado de um sincretismo entre islamismo e hinduísmo e seus seguidores são reconhecidos por aqueles enormes turbantes que escondem a (enorme) cabeleira, além das portentosas barbas. Religião monoteísta, é baseada nos ensinamentos dos 10 gurus.
O templo é bastante bonito, caracterizado por suas cúpulas douradas e tem em seu interior muitos detalhes de grande riqueza, com colunas e paredes muito brancas, feitas de mármore. Ao mesmo tempo em que há todo esse luxo, o templo é aberto a qualquer um que queira visitá-lo e... comer à vontade! Isso mesmo, seja rico ou seja pobre, você pode ir ao refeitório comunitário do templo e alimentar-se até sentir-se saciado. Neste local você recebe uma bandeja de metal e senta-se no chão, sobre um tapete. Logo em seguida, passa um dos voluntários do templo arremessando (e é essa a palavra mais precisa) um pão e uma espécie de purê de alguma coisa que não faço ideia do que seja, que espirra para todos os lados. Não chegamos a experimentar para dizer se era bom ou não, já que a Pati ainda estava passando mal após nossas primeiras refeições por lá e ainda tínhamos muitas horas de trem para encarar... não dava para arriscar!!
Bom, essa foi nossa introdução a este país que ainda seria nossa casa por mais 11 dias, ainda tinha muita coisa por vir, a começar pela longa viagem de 14 horas de trem até Varanasi, mas esta é história para o próximo post!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário