Estávamos ansiosos para chegar ao México, afinal
de contas iríamos ver uma das sete maravilhas do mundo moderno, Chichén Itza,
mergulharíamos em uma das praias mais famosas e procuradas do Caribe, além de
ficarmos hospedados em um apart-hotel, com mais espaço e liberdade em relação
ao que tínhamos na simpática pousada do Raul em Belize. Acordamos cedo, tomamos
nosso café improvisado, mochilão nas costas e fomos caminhando até o ponto de
partida do barco.
O tempo, que até então havia sido ensolarado e com
céu limpo em todos os 5 dias que ficamos por lá, nessa manhã estava cinza e com
bastante vento. Não era um bom sinal, mas tudo bem, não seria nossa primeira
turbulência caribenha.Chegando lá, não me parecia ser o local correto, faltavam 20 minutos para o barco sair e não havia ninguém; nem passageiros, nem marinheiros, nem staff, nem barco! Só havia uma pequena embarcação, praticamente sem cobertura alguma (deviam caber uma 6 pessoas em baixo daquele teto), com no máximo 30 pessoas tamanho “maia” de capacidade. Mas, faltando uns 10 minutos para a hora marcada de partida, as pessoas começaram a chegar (em Belize eles levam o lema nacional “Go Slow” bem a sério). Com eles, chegou também a chuva...
Com 15 minutos de atraso, o staff da empresa
apareceu, junto com 2 marinheiros. Pensamos: “Bom, agora só falta o barco”. Eis
que um dos funcionários começa a colocar nossas malas dentro daquele barquinho
que estava ali parado desde que chegamos. Otimista, pensei : “Ah, como são
muitas malas grandes, devem transportá-las nesse, enquanto os passageiros vão
em um barco maior, coberto”. A essa altura já ventava e chovia muito, e éramos
em torno de 40 passageiros.
Com quase meia hora de atraso, apareceu uma moça
com o uniforme da Caye Caulker Water Taxi Express e começou a anunciar uma
lista com nomes para embarcar...peraí, embarcar ? Cadê o barco ? Sim, era
aquele mesmo, o barquinho-quase-sem-teto!! Começou então um empurra-empurra
(porque na hora do aperto toda aquela educação dos europeus desaparece...) para
ver quem seriam os 6 sortudos que conseguiriam ficar protegidos pelo teto e dividindo
espaço com as malas. Conforme a moça anunciava, pulava um branquelo desesperado
dentro do barco...e foram nomes e mais nomes e nada de Juliano e Patrícia...até
que a lista acabou! Lá vou eu perguntar pelos nossos nomes, enquanto o barco já
estava completamente lotado:- Seus nomes não estão na lista – disse a moça, olhando para o barco, como se quisesse que ele partisse naquele instante.
- E essas duas passagens ?
- Passagens? Deixa eu ver...
Foram mais uns 10 minutos de telefonemas até
resolver o problema (que até agora não sei qual foi). Embarcamos e sentamos no
único centímetro quadrado ainda disponível.
Os 60 minutos entre Caye Caulker até San Pedro,
ainda em Belize, onde fizemos a imigração, foram de terror absoluto. Ondas
grandes faziam o barco se desprender completamente da superfície, jorrando água
para todos os lados...além da própria chuva, que desabava em nossas cabeças sem
piedade. Em um certo momento o barquinho começou a ficar repleto de água e o
motor a falhar. Por sorte, porque não dá para usar outra palavra, chegamos em San
Pedro nesse exato momento, completamente ensopados, a tal ponto que a Pati teve
que jogar fora o vestido que estava usando. Parte do dinheiro também ficou
encharcado, mas não perdemos nada. Na verdade, o nosso único prejuízo foi um
visto cubano molhado, que tivemos que trocar (na verdade comprar) por outro
novo no aeroporto de Cancún, mas isso já é outra história...Ensopados, na fila da imigração (os últimos...), tivemos que esperar ainda um pouco mais... um casal de argentinos, que também estavam no barco e foram os primeiros a embarcar em Caye Caulker, não tinham seus nomes na lista de passageiros, fornecida pela empresa, e que vai para as imigrações tanto de México como de Belize. Ou seja, eles tinham a passagem, vieram no barco, mas como o nome não estava na lista da imigração, não poderiam continuar até o México... além disso não havia mais lugar no novo barco (este coberto, com capacidade para 45 pessoas)!! Já com o otimismo afogado em algum ponto do Caribe, pensei: “Se nosso nome não estava na lista lá, também não vai estar aqui...”. Enquanto os argentinos batiam boca com o oficial, fomos chamados e... surpresa, nossos nomes estavam lá (sim, porque isso, a essas alturas, já é motivo de comemoração)!! Cumprimos as formalidades e lá fomos nós para mais 2 horas e meia de barco, dessa vez fechado e, aparentemente, confortável... mas foi só aparência mesmo!
Com ondas que chegavam a mais de 2 metros, a nossa
nova embarcação mais parecia uma aeronave, já que seu casco ficava mais tempo
em contato com o ar do que com a água! Isso sem contar as janelas sem trava,
que permitiam que jatos de caribe explodissem no rosto e nas malas... do
argentino, que conseguiu passar pela imigração!! Já com as vestes secas, por
conta de toda centrifugação que nossa viagem na máquina de lavar roupa
proporcionou, chegamos a Chetumal, México.
Após enfileirarmos todas as nossas bagagens para o
show canino dos oficiais, fomos para mais uma fila de imigração. Parecendo
cachorros molhados e com cara de sono, não estávamos muito apresentáveis para
uma entrevista, mas essa também foi tranquila. O oficial sequer olhou o visto
americano da Pati no passaporte... na verdade estava mais preocupado em fazer
piadinhas com todos que chegavam : “ Brasileiros!! Ah, se vocês sambarem, não
precisam pagar a taxa!”. Juro que pensei : “Já estou todo molhado, com a barba
por fazer, cara de sono... se eu sambar aqui o mico não vai ser tão grande
assim e economizamos 52 dólares”. O resquício de bom senso e orgulho próprio
que ainda sobraram, pouparam os gringos e mexicanos do espetáculo bizarro... As 5 horas entre Chetumal e Playa del Carmen, em um ônibus com ar condicionado no máximo, para compor com nossas roupas e cabelos molhados, foram, na verdade, um alívio... terra firme, viva o México e hasta luego!!
Nossa muito legal essa aventura ^^
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