Mitos e verdades : Turquia e Grécia

1) Turcos e gregos tem muita rivalidade – verdade

Eles não se odeiam, também não dá para dizer que são grandes amigos... mas a situação já foi bem pior. Um dos grandes responsáveis por alimentar essa tensão foi o herói nacional turco, o “pai da Turquia moderna” como muitos chamam, Atatürk. Quando assumiu o poder, o líder turco tomou como uma de suas primeiras medidas a imediata “expulsão voluntária” de todos os gregos que viviam no país (mais de 1 milhão deles), que foram obrigados a deixar suas casas e sua vida já estabelecida para retornar à Grécia. Esta medida também se aplicou aos seus descendentes, muitos deles os quais sequer falavam a língua de seus pais. Logicamente, os gregos fizeram o mesmo com os turcos que lá viviam. O resultado disso foi uma rivalidade e algumas vezes até um ódio profundo entre os povos dos países... que são muito, mas muito parecidos em diversos hábitos e aspectos culturais, como vamos mostrar mais adiante! Hoje em dia esse rancor está bem menor, mas não coloque gregos e turcos dentro de uma quadra de basquete para disputar um jogo pois este nunca será “amistoso”.

2) “Olho-grego” e “churrasquinho grego” têm esses nomes porque surgiram na Grécia – mito

Há muita controvérsia nisso, mas os “estudiosos” do assunto dizem que, na verdade, estes são traços culturais turcos levados à Grécia. Visitando os dois países dá para confirmar isso. O tal “olho-grego”, como chamamos no Brasil, é um objeto muito mais venerado e utilizado na Turquia que na Grécia. Os turcos o colocam por todas partes: em árvores, retrovisores de carros, pulseiras... já na Grécia, é mais visto em lojinhas de “artesanato”, como item para turistas. O nosso famoso “churrasquinho grego”, apesar de ser realmente bem tradicional por lá, realmente não tem nada de grego. O “gyros” (nome que recebe na Grécia) nada mais é que o Kebab, comida típica não só da Turquia, mas de todos os países que tem alguma influência árabe, e que se espalhou pelo mundo. Outros itens que os gregos tomam como seus, mas que também têm origem na Turquia são o “café grego”, que é um café forte, preparado sem coador, e os “doces gregos”, que são, também, doces típicos da cultura árabe/islâmica. Para falar a verdade, pouco importa a origem, o que sabemos é que tanto gregos como turcos têm uma cultura riquíssima e culinária deliciosa, independentemente de onde possa ter surgido!

3) A economia grega está em “frangalhos” e a turca, crescendo rapidamente – verdade

A diferença entre as duas é brutal. A Turquia realmente nos surpreendeu pela vivacidade e desenvolvimento. Ruas repletas de pessoas, lojas abertas e sempre cheias, bem como restaurantes; aeroporto movimentado, muito bem organizado e moderno, carros novos nas ruas, com pouquíssimo mercado informal ou mendigos, ou seja, as pessoas têm emprego formal! Vê-se também muitos turcos viajando pelo país, o turismo interno é fortíssimo. Logicamente tem seus problemas, especialmente de ordem política com um primeiro ministro que quer trazer de volta a religião aos círculos do poder, mas é nítido o desenvolvimento turco e a incrível melhoria na qualidade de vida da população local. Já a Grécia... confessamos que foi uma grande tristeza, especialmente em Atenas. Ruas vazias, comércio fechado por toda parte, ambulantes tentando arranjar um trocado em todos os pontos turísticos, vários pedintes, carros com pelo menos uns 15 anos de rodagem... parece um país que parou no tempo! Mesmo nas ilhas, onde essa crise é menos perceptível, notamos várias pousadas vazias e alguns restaurantes fechados em plena alta temporada! Diz-se por aqui que a economia grega está em recuperação e a turca, estacionada... mas não foi, realmente, esta a impressão que tivemos.

4) As praias gregas são as mais bonitas do mundo – mito

Esta foi outra grande decepção na Grécia. Para nós brasileiros, que estamos acostumados a praias com extensa faixa de areia branquinha, águas mornas e coqueiros, as praias gregas não são nada surpreendentes. Para não sermos injustos, algumas delas possuem sim uma beleza “estética”, ou seja, são fotogênicas... e só! Na grande maioria não há areia e sim pedras, que com o calor de 35 graus do verão, tornam-se praticamente uma “grelha” para quem quer esticar a “canga” no chão e dar uma relaxada. Além disso, o mar, apesar de ter uma coloração muito bonita, tem fundo de pedra e temperaturas bem geladas, mesmo com o calor insuportável de fora. No auge do verão, a coisa piora, pois o pouco espaço disponível (são praias diminutas) fica tomado por cadeiras de praia e a única coisa que se “aprecia” é o mar de gente... Visitamos algumas praias interessantes, bonitas, mas se você planeja ir à Grécia exclusivamente por conta das praias, economize uma grana e vá para o nordeste... ou para a Turquia, lá sim, especialmente no litoral mediterrâneo, as praias são espetaculares e não só “cartões-postais”.

 5) Os turcos são fanáticos religiosos – mito

Já visitei 5 países em que a religião islâmica é a dominante: Marrocos, Egito, Malásia, Jordânia e Turquia, posso afirmar categoricamente que o último citado é sem dúvida o mais tranquilo nesse aspecto. Antes de mais nada, a Turquia é um estado laico, ou seja, a religião não faz parte do governo e não há uma oficial. Nossa chegada coincidiu com a última semana do Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos em que fazem jejum do nascer ao pôr do sol, e pudemos constatar que muitos faziam uma versão “light”. Com o calor insuportável que estava, muitos tomavam líquidos à vontade e faziam refeições (mais leves) ao longo do dia. Nos outros países que visitei, as mesquitas convocavam os fiéis para rezar em todos os horários... na Turquia, duas vezes por dia. Nunca vimos ninguém parar o trabalho e fazer suas preces (no Egito e Marrocos isto é muito comum)... e muitos turcos tomam a sua cervejinha e vinho sem problema algum ou recriminação! É possível encontrar mulheres com véus e até mesmo burcas, mas a grande maioria se veste como qualquer ocidental, cabendo até saias curtas ou blusas decotadas, sem problema algum. Fanáticos mesmo, os turcos são por futebol!!

6) Todos os turcos conhecem a tal da novela que foi ambientada por lá – mega mito

Exceto por um dono de restaurante na Capadócia (que era australiano, na verdade) em que a Cléo Pires tomava café da manhã, nenhum dos turcos com quem conversei sabia sobre esta novela, mesmo no Grande Bazar. Pode ser que tenhamos conhecido turcos “desinformados”, não sei, mas os motivos para eles gostarem de brasileiros são dois principais: futebol e gostar de gastar dinheiro, e não novelas brasileiras. Por incrível que pareça, os gregos conhecem!! Em um dos ferries que pegamos, passou um capítulo de uma novela qualquer, em português com legendas!

7) Turcos e árabes são “tudo a mesma coisa” – mito (além de uma estupidez sem tamanho!)

Esta é uma mania que temos no Brasil : chamar qualquer pessoa que veio do oriente médio de turco, mesmo que no nosso país sequer sejam a maioria dos imigrantes que de lá vieram; aliás, quando dissemos isso ao nosso guia, ele nos olhou com aquela cara de “Como assim?”. Não sou geógrafo e historiador, mas apesar da grande identidade cultural e linguística que caracterizam os povos chamados povos árabes, existem algumas diferenças do ponto de vista étnico (além de alguns deles não se entenderem muito bem)... Muitos marroquinos são descendentes dos bérberes; Libaneses, dos grandes navegadores fenícios (quem conhece um libanês nota a diferença física entre eles), iranianos são persas; os sauditas, estes sim são originários das tribos nômades da península arábica e os turcos são descendentes de vários povos que habitaram aquela região durante séculos (árabes, inclusive)!!! Ou seja, alguns turcos se consideram árabes, outros não, mas definitivamente, não são todos "a mesma coisa" !!

 8) Nas praias gregas o topless e o nudismo são bastante praticados, mesmo em praias não específicas – verdade

Na verdade, esse negócio de praia de nudismo oficial não existe por lá. Você pode tirar a roupa onde bem entender... mas existe um “senso comum” que faz com que a maioria tire as roupas em determinados locais e em outros não. De qualquer modo, se você chegar em uma praia e de repente encontrar todo mundo pelado, não se sinta pressionado a tirar a roupa, ninguém vai recriminá-lo. Topless já é uma prática bem mais difundida e você vai encontrar em praticamente todas as praias da ilha.

9) O Cavalo de Tróia foi um “presente de grego” – verdade

Sim, o cavalo de madeira contendo um poderoso exército escondido, foi levado pelos gregos como “presente” aos turcos, já que Tróia fica neste país

10) Após uma refeição em um restaurante grego, posso quebrar o meu prato – verdade

    Sim, você pode quebrá-lo, desde que pague por ele e peça desculpas ao garçom, que vai ter que limpar a bagunça que você fez!

Mitos e verdades : Índia

1) A Índia é um país acolhedor e de pessoas solícitas - mito

No geral, o povo indiano não é muito acolhedor. Visitamos vários lugares, ficamos hospedados em diversos hotéis, fomos a restaurantes, lojas... dificilmente recebíamos boas vindas, rostos sempre fechados e, algumas vezes, rudes. Solicitude também não é o forte. Conseguir uma informação é algo quase impossível. Ajuda, somente se estiver disposto a dar algo em troca. Isto sem falar nas tentativas de golpe que sofremos em todos os táxis que pegamos (não disse um ou outro, disse todos!), incluindo um taxista que, às 03:00 da manhã, a caminho do aeroporto, queria nos levar para fazer compras!! A Índia foi o único país da viagem até agora em que sofremos tentativa de furto e que realmente tínhamos que tomar muito cuidado com nossos pertences; recomendação dos nossos guias e dos locais, que prendiam suas bagagens nos assentos dos trens com cadeados. Já visitamos mais de 30 países em nossas vidas, muitos deles bem pobres (Vietnã, Camboja, Belize...), e nunca sofremos o tipo de assédio que tivemos por lá e a sensação constante de insegurança. Com certeza há muitos indianos solícitos e educados, mas, infelizmente, estes não foram a maioria dos que conhecemos... 

2) A Índia é um país muito sujo, com saneamento básico precário - verdade

Apesar de ser uma das economias que mais cresce no mundo, produzir tecnologia de ponta e ter uma medicina avançada, a Índia ainda está muito, mas muito atrasada em oferecer à sua população um mínimo de condições básicas de saúde e saneamento. A água, mesmo na capital do país, é imprópria para consumo. O problema é que esta mesma água é usada no preparo dos alimentos e para lavar as mãos. Viajar até a Índia e não ter uma intoxicação é coisa raríssima! Eles não consideram que os milhares de turistas que passam mal quando visitam o país, são vítimas da higiene precária e descuido no preparo dos alimentos (a louça, por exemplo, é levada no meio da rua e os restos de comida, lá deixados!), acham que é apenas o tempero forte da comida... Jogar restos de alimento, papel e outros detritos nas ruas é hábito; na verdade, é até estimulado! Como vacas e porcos são animais sagrados e eles precisam de alimento, os indianos consideram que deixar a rua suja pode atrair algum destes animais para próximo de sua casa ou loja e trazer sorte!! Defecar e urinar no meio da rua, também é mais comum do que se possa imaginar... e não estamos falando do interior, estamos falando do centro da capital do país. No mercado de especiarias de Nova Délhi há um mictório (na verdade uma parede com um ralo no chão) bem no meio da rua!! O cheiro das cidades só não é pior por conta da enorme quantidade de incenso que é queimada por todos os lugares.

3) Em Varanasi pessoas tomam banho no rio Ganges, o mesmo em que jogam corpos de familiares após a morte - verdade

Varanasi é a cidade sagrada dos hindus, budistas, sikhs e outras religiões muito praticadas no país. Lá passa o rio Ganges, o rio sagrado, onde várias cerimônias religiosas são realizadas. Uma delas é a cremação. Corpos são cremados às suas margens e suas cinzas lá jogadas. O problema é que as famílias menos abastadas, simplesmente tocam fogo no corpo do familiar morto e o atiram no rio, resultado : invariavelmente é possível ver membros ou até mesmo corpos de pessoas e animais boiando pelo rio. E sim, muitos indianos se banham e até mesmo tomam grandes goles de suas águas.

4) O sistema de castas não existe mais na Índia - mito

Grande mentira. Apesar de estar proibido pela constituição há muito tempo, assim como a obrigatoriedade de dotes em casamentos, o sistema de castas está plenamente enraizado na sociedade indiana e, conversando com vários locais, percebe-se que dificilmente alguém vai conseguir fazê-los pensar diferente. Não precisamos fazer muito esforço para ver os "dalits", ou os "intocáveis", assim chamados por serem considerados impuros e, por isso, indignos de atenção, não devendo sequer ser tocados. Eles são realmente ignorados pela população, como se fossem fantasmas ou pior, como se fossem um poste, algo que só percebemos que existe quando ficam no nosso caminho. Eles se amontoam na frente de templos, com as mãos espalmadas para cima, esperando alguém deixar algum pedaço de pão, comida, dinheiro... temos fotos disso, mas decidimos não colocar aqui. Certa vez fomos a um McDonalds e, pelas janelas, 4 ou 5 rostos de crianças espremidos contra os vidros apenas observando a "natural" indiferença dos mais endinheirados. Não tem como ficar indiferente, a não ser para eles... O que mais impressiona é que os indianos realmente acreditam que eles estão nesta situação simplesmente porque tem que ser assim, já que são descendentes da poeira do chão onde pisa o deus e não merecem, nem são dignos, de qualquer tipo de oportunidade... Outra coisa chocante, não tanto relacionada ao sistema de castas, mas também relacionada à segregação que lá existe : não se vê mulheres nas ruas, em restaurantes, trabalhando... em lugar nenhum!! Estão ainda extremamente excluídas do mercado de trabalho, da sociedade indiana. Lamentável!

5) Mahatma Gandhi é um herói nacional, idolatrado por todos - mito

Esta foi a maior surpresa que tivemos na nossa passagem pela Índia. A maioria dos indianos que tem um pouco mais de estudo considera o famoso líder um "pilantra". Para muitos, Gandhi foi apenas uma marionete dos grandes interessados e beneficiados com a independência indiana, ou seja, grupos que queriam ter exclusividade sobre as riquezas do país sem ter que dividir com os ingleses...e com a população, claro! Apesar de estar nas cédulas de rúpias, quase não se vê fotos ou artigos relacionados ao falecido líder em lojas ou templos ou qualquer outro lugar que seja! Além disso, os mais críticos dizem que ele era extremamente machista, mulherengo, racista e exagerava no álcool... mas aí me parece também um pouco de intriga... O fato é que Mahatma Gandhi está longe de ser unanimidade no país.

6) A culinária indiana é bastante condimentada e há curry em quase tudo - verdade

A culinária indiana não é novidade para ninguém que vive em grandes centros urbanos. Com certeza você já deve ter ido a um restaurante deste tipo e o que comeu lá não é muito diferente do que comemos no país. Realmente a comida é muito, mas muito condimentada. Se você não gosta de pratos apimentados, terá pouquíssimas opções para comer; mesmo que peça pratos não picantes, eles virão com uma quantidade que faria qualquer mexicano satisfeito. A maior parte da população é vegetariana, sendo assim, carne é algo que você realmente não encontrará. Mesmo no McDonalds, o sanduíche mais vendido é o McVeggie. Carne, só de frango, com muito curry, claro...

7) O trânsito é o mais caótico do mundo - verdade (mas há controvérisas...)

Você consegue imaginar dirigir um carro em um local em que não há semáforos; pedestres atravessam em todos os sentidos, em qualquer lugar, não há mão ou contra-mão; carros, tuk-tuks, scooters e bicicletas dividem um espaço mínimo e os automóveis não têm espelho retrovisor, sendo guiados apenas pelo som das buzinas?? Pois é, na Índia o trânsito não segue alguma ordem, ou se segue, é incompreensível para nós ocidentais. As buzinas são simplesmente incessantes : buzina-se para avisar que está atrás, para avisar que está passando, para avisar quando passou, para avisar que vai parar, sair... para absolutamente tudo!! Certa vez, estávamos saindo de Agra em direção a Tordi Garh, de ônibus, quando nosso motorista simplesmente resolveu entrar na pista contrária de uma rodovia federal e trafegar cerca de 10 km pelo acostamento, na contra-mão, buzinando para que todos saíssem da frente. Isto se não formos contar também o dia em que pegamos um tuk-tuk em Varanasi, à noite, com chuva e nosso veículo não tinha retrovisor (básico), o farol não ligava, o vidro da frente estava quebrado e a buzina não funcionava...o motorista simplesmente enfiava a cabeça para fora e...dirigia! O trânsito indiano disputa palmo a palmo com o vietnamita.

8) Todo indiano fala inglês - mito

Outra lenda. Apenas indianos que trabalham com turismo ou em grandes redes multinacionais falam inglês. Nas ruas, lojas, táxis, tuk-tuks, enfim, na maioria dos lugares, só se fala e entende o hindu.

9) O Taj Mahal é realmente uma das 7 maravilhas do mundo moderno - verdade

Podemos afirmar que, se não fosse por ele, teríamos um certo arrependimento de ter incluído a Índia em nosso roteiro. O forte de Agra e a fortaleza vermelha de Jaipur também são impressionantes, mas não justificam, na nossa opinião, uma viagem tão longa e tantos contratempos que irá enfrentar... mas o Taj Mahal, este sim vale a pena

10) As vacas e porcos são animais sagrados e ficam por todos os lados, sem serem incomodados - verdade

Antes de ir achávamos que era um exagero o que falavam a respeito das vacas na Índia, mas acredite, é tudo a mais pura verdade!! Elas realmente estão por toda a parte: deitadas no meio das grandes avenidas de metrópoles como Nova Délhi, alimentando-se em canteiros de flores de praças ou lixões, passeando no meio de lojas... e não são incomodadas ( e parecem não se incomodar) por absolutamente ninguém. Os mais religiosos torcem para que estacionem em frente de seus estabelecimentos, mas morrem de medo que alguma morra por lá, já que não poderá ser retirada, nem tocada. Alguns passam a mão em seu dorso para atrair boas "energias".