sábado, 5 de abril de 2014

Umas cervejas pela frente!!



Uma das missões a que nos propusemos realizar nesta viagem foi descobrir quais são as melhores cervejas de uso regular, ou seja, aquelas do dia a dia, que encontraríamos ao longo da nossa jornada. A missão foi muito difícil, afinal você deve imaginar o quão estressante é ter a responsabilidade de chegar em um novo país, uma nova cidade, e ter que experimentar as diversas marcas locais em quantidade suficiente para termos uma boa noção do real valor. A escolha de acompanhamentos e dos locais também era outra preocupação, já que tudo isso interfere muito no sabor e no valor científico desta importante pesquisa! Vamos, inicialmente, fazer um apanhado geral de como é tratada a tradicional "loira gelada" ao redor do mundo que visitamos e, no final, colocaremos o nosso top 05 (pelo menos o que conseguimos lembrar dele).

Los hermanos sudamericanos tem um paladar para cerveja mais parecido com o nosso. Apesar de só termos passado pela Colômbia, já havia visitado Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia e Peru e pude constatar uma semelhança na preferência por cervejas de corpo médio, fáceis de beber e com a finalidade maior de refrescar do que propriamente "esquentar". Sul americanos não gostam de sabor marcante, aquele "amargo" que persiste na boca, sabe? A marca mais popular por lá é a Aguila, mas a que mais nos apeteceu foi a Club Colombia, uma cerveja mais artesanal e saborosa.
Rumo ao norte, na América Central, chegamos na área de transição entre a cerveja um pouco mais encorpada do sul do continente e a "aguada" que domina o norte.
Na Guatemala, duas marcas dominam o cenário, sendo uma delas bastante familiar para nós brasileiros.

Quem já rodou pelas Américas sabe que a Brahma está presente em vários países, sendo a Guatemala um deles. Lá ela é a segunda marca mais consumida, só perdendo para a boa cerveja Gallo. Uma peculiaridade local, no entanto, fez com que a famosa marca brasileira tivesse que mudar seu nome por lá, para Brahva...acontece que o nome original, na região, tem um significado pouco estimulante ao consumo das geladas: algo como o líquido fisiológico que as vacas produzem quando estão no cio... bizarro, não?

Seguindo rumo ao norte, pudemos provar também a boa Belikini, marca dominante no Belize, que fica ainda mais gostosa com aquele calor e as belas praias caribenhas. Aliás, efeito este que também é produzido em Cuba e sua cerveja "estatal" Bucanero, de qualidade um pouco inferior se comparada às suas companheiras centro-americanas, mas que cumpre muito bem seu papel de aplacar o calor intenso da ilha, ainda mais com esse mar azul cristalino como paisagem de fundo!

Entrando agora na América do Norte, chegamos ao paraíso do que a Pati costuma chamar de "xixi de gato". São aquelas cervejas bem aguadas, fraquinhas, sem sabor algum, sem aquele "amargo" citado anteriormente, e que são produzidas com a finalidade de refrescar e serem consumidas em grande quantidade, rapidamente, sem causar grandes "efeitos colaterais". Os mexicanos são pródigos na produção desta iguaria e dominaram o mercado mundial deste tipo de cerveja. Podemos encontrar suas marcas em todos os supermercados desde o Uruguai até o Canadá, passando até mesmo por alguns países asiáticos (que também gostam de "xixi de gato") e africanos. Aparentemente só os europeus estão livres destas "delícias". As marcas mexicanas mais conhecidas por aqui, como a "Sol", não são tão populares por lá. Quem domina o mercado é a horrorosa Tecate, com a concorrência da tenebrosa Índio e da medonha Dos Equis. Agora, por mais contraditório que possa parecer, a melhor cerveja que experimentamos em todo continente americano é mexicana, a saborosa e encorpada Negra Modelo... pelo menos alguém por lá gosta de tomar cerveja... Com relação aos americanos, só tomamos cerveja lá 1 única vez. Já cansados de "xixi de gato" e já tendo experimentado por aqui inúmeras vezes as marcas que costumam tomar por lá, decidimos ficar mais no fantástico vinho californiano e só tomamos cerveja uma única vez, uma marca artesanal chamada Blue Moon, que até estava razoável...

Atravessamos o Pacífico, mas a qualidade da cerveja não mudou muito... Japoneses e chineses também não são muito fãs de uma cerveja mais encorpada. As mais consumidas por lá são as marcas japonesas Kirin e Sapporo. Para tirar as dúvidas, tivemos que consumi-las várias vezes... mas realmente não constam na nossa lista de preferidas. Contudo, acompanhando as condimentadas comidas chinesas, não decepcionaram e faziam até uma boa parceria. Experimentamos também a marca chinesa Tsingtao mas, sinceramente, não lembramos muito dela... e não foi por excesso de consumo!


No sudeste asiático a coisa começa a melhorar um pouco mais. Com grande influência européia na produção de cerveja (adaptada ao gosto oriental, claro), a bebida preferida da região tem características um pouco mais parecidas com as nossas e algumas até mesmo com consistência e aroma de cervejas do velho continente. São inúmeras e infinitas as marcas da região. Só na Tailândia você pode experimentar 4 marcas diferentes. Nenhuma delas decepciona, como a Singha, a Leo ou a Chang, mas a melhor é, sem dúvida, a Tiger, de Singapura, feita nos moldes da cerveja inglesa. Mais encorpada, amarga e cremosa que as demais, foi uma das cervejas do dia a dia que mais gostamos na viagem e a melhor da Ásia, sem dúvida.


Algumas cervejas locais, produzidas em menor escala, também não decepcionaram e algumas foram gratas surpresas. Exceto pelo nome, nada convidativo, a cerveja mais famosa do Laos, a Beer-Lao (em inglês com sotaque do sudeste asiático, o som sai como "bilau"), foi uma grata surpresa em nossa visita relâmpago ao país. O Camboja também tinha a sua marca nacional, Angkor, e a Indonésia, apesar de ser um país predominantemente islâmico, tinha as marcas BaliHai e Bintang , de Bali (que é a parte budista do país), como suas honestas representantes. Mas em nenhum lugar pudemos observar tanto regionalismo como no Vietnã, onde pudemos tomar ao menos umas 5 marcas diferentes de cerveja, que variavam de acordo com a região em que estávamos. Ao norte, dominavam as marcas de origem francesa, como a Larue; no sul, as marcas de origem mais asiáticas e inglesas, como a 333, a Bia Saigon e a Huda Beer, propriedade da Carlsberg.

Saindo agora do sudeste asiático, mas ainda no maior continente do planeta, tivemos a oportunidade (se bem que não sei se esta é a melhor palavra para descrever o fato) de experimentar, na Índia, a pior cerveja, de longe da viagem, a Kingfisher. Não é aguada como as mexicanas e americanas, tampouco encorpada e cremosa como as européias; também não é aquela cerveja para refrescar e acompanhar petiscos, como a nossa... na verdade ela é azeda, deixa um gosto horripilante na boca e não refresca em nada o calor indiano. Enfim, mais uma das "gratas" surpresas que o subcontinente indiano nos reservou em nossa passagem por lá...

Para finalizar a nossa passagem etílica pela Ásia, temos as cervejas turcas. Nosso leitor mais atento deve se perguntar : "Mas a Turquia não é um país islâmico? Os muçulmanos não são proibidos de tomar álcool?". A resposta é não e (parcialmente) sim. A Turquia não é um estado islâmico, e sim um estado laico, ou seja, a igreja não faz parte do Estado e os cultos religiosos são livres. A grande maioria da população é, sim, islâmica... mas a maioria não segue "religiosamente" os preceitos como outros países de maioria muçulmana, como o Egito. Alguns turcos, muçulmanos, bebem sim e, por isso, a Turquia possui uma marca de cerveja até famosa, a Efes, que só não foi a pior da viagem porque sempre vai existir a Kingfisher. Em compensação, a marca concorrente, Bomonti, faz uma boa e cremosa cerveja, mais parecida com padrão europeu.


Ah, finalmente a Europa, terra da melhor cerveja do mundo... bom, quase isso, já que começamos pela Grécia! A cerveja helênica está longe de ser a bebida dos deuses do Olimpo, mas é um pouco parecida com a nossa e, por isso, não nos desagradou. Com o calor do verão local, fazia uma ótima parceria com os petiscos de frutos do mar que encontramos pelas ilhas. A Fix foi uma das que tomamos mais vezes e caía sempre bem! Seguindo nosso caminho europeu, passamos por Itália e Espanha, mas lá não tomamos sequer uma cervejinha... preferimos dar uma pausa e enfatizar mais a especialidade local, os vinhos, que serão abordados oportunamente em outro post etílico.


Agora sim, chegamos no ponto alto, do ponto de vista lupulínico, da nossa viagem : o leste europeu! Terra das melhores cervejas do continente, o povo de lá gosta e sabe apreciar enormes canecos da "loira gelada". Não tem essa conversa de latinha ou garrafinha long neck; pediu cerveja, é 1 litro no mínimo! Sempre encorpadas, amargas na medida certa e bastante equilibradas, estas realmente descem redondo!! Começamos pela Croácia, terra da Ozujsko e da Karlovaco. A cerveja está tão presente no dia a dia do croata, que lá você pode encontrá-las sendo vendidas nos supermercados em garrafas PET de 3 litros!! E olha que eles não levam somente uma para casa não.


Outra curiosidade, os eslavos adoram tomar cervejas com sabor! Isto mesmo, cerveja de limão, laranja, mirtilo... enfim, vimos ao menos uns 5 ou 6 sabores diferentes. Experimentei a de limão... não é bem o que agrada quem gosta de cerveja, parece mais um refrigerante mais amargo, meio enjoativo, mas em um dia de calor, é bem refrescante. Outra marca bastante presente em vários lugares é a eslovena Lasko, que recebe o nome da cidade onde é fabricada (que fica no meio do caminho entre Zagreb e Liubliana). Ainda passamos pela Áustria, onde a Pati pôde matar a vontade com sua variedade preferida, a cerveja de trigo. Experimentamos a Stiegl Weisse, que cumpriu bem o seu papel!


Ainda pudemos experimentar a eslovaca Zlaty Bazant, durante a nossa pedalada de 6 dias e 360 Km entre Viena e Budapeste (afinal, precisávamos nos reidratar) e a húngara Borsodi. Aliás, Budapeste cultua tanto uma boa cerveja que lá está o terceiro melhor pub do mundo, eleito pelo voto de especialistas, o Szimpla Kert, um galpão, sem charme algum, que fica à meia luz, com uma banda tocando e servindo uma excepcional cerveja de fabricação própria, em copos de plástico! Visita obrigatória!!


Saindo do mundo das cervejas, voltamos ao universo dos vinhos, Portugal... mas desta vez, apesar de não ser a nossa bebida mais frequente, tivemos a oportunidade de experimentar duas marcas lusitanas, a Sagres e a Super Bock, a nossa preferida para acompanhar algumas porções de bolinhos de bacalhau! A Europa realmente nos deixou mal acostumados, mas era hora de ir para a África e tivemos receio de encontrar um novo México ou Índia pela frente... estávamos redondamente enganados!!


Já na Tanzânia fomos surpreendidos logo de cara pela Kilimanjaro, cerveja nos moldes europeus, encorpada e que desce muito bem! Aliás, as cervejas africanas que experimentamos são fabricadas na sua maior parte por alemães, belgas, dinamarqueses e ingleses e parece que o fazem para agradar o seu paladar. A Serengueti segue o mesmo padrão, assim como a Zambezi, no Zimbábue. Na África do Sul não experimentamos muitas marcas, já que nosso foco lá foi, novamente, o vinho, especialidade do país, que faz um dos mais brilhantes e premiados sauvignon blancs do mundo! No entanto, conhecemos por lá a Ginger Beer, cerveja não alcóolica feita à base de gengibre e boa para acompanhar as condimentadas e exóticas carnes sul-africanas. 
Bom, é isso! Obviamente não colocamos aqui todas as marcas que experimentamos e nem fizemos uma análise especializada das características das cervejas dos quatro cantos do mundo, já que estamos bem longe de ser experts no assunto. A nossa proposta foi muito mais a de dois leigos, que adoram cerveja, dar a sua opinião sobre aquelas que são consumidas no dia a dia pelos locais de cada país e que nos despertaram sensações diferentes de paladar e, por que não, emoções!! Segue agora nosso top 05:

5) Tiger - Singapura
4) Club Colombia - Colombia
3) Negra Modelo - México
2) Borsodi - Hungria
1) Karlovaco - Croácia

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