quinta-feira, 11 de abril de 2013

Tormento no Caribe


 
Estávamos ansiosos para chegar ao México, afinal de contas iríamos ver uma das sete maravilhas do mundo moderno, Chichén Itza, mergulharíamos em uma das praias mais famosas e procuradas do Caribe, além de ficarmos hospedados em um apart-hotel, com mais espaço e liberdade em relação ao que tínhamos na simpática pousada do Raul em Belize. Acordamos cedo, tomamos nosso café improvisado, mochilão nas costas e fomos caminhando até o ponto de partida do barco.
O tempo, que até então havia sido ensolarado e com céu limpo em todos os 5 dias que ficamos por lá, nessa manhã estava cinza e com bastante vento. Não era um bom sinal, mas tudo bem, não seria nossa primeira turbulência caribenha.
Chegando lá, não me parecia ser o local correto, faltavam 20 minutos para o barco sair e não havia ninguém; nem passageiros, nem marinheiros, nem staff, nem barco! Só havia uma pequena embarcação, praticamente sem cobertura alguma (deviam caber uma 6 pessoas em baixo daquele teto), com no máximo 30 pessoas tamanho “maia” de capacidade. Mas, faltando uns 10 minutos para a hora marcada de partida, as pessoas começaram a chegar (em Belize eles levam o lema nacional “Go Slow” bem a sério). Com eles, chegou também a chuva...

 
Com 15 minutos de atraso, o staff da empresa apareceu, junto com 2 marinheiros. Pensamos: “Bom, agora só falta o barco”. Eis que um dos funcionários começa a colocar nossas malas dentro daquele barquinho que estava ali parado desde que chegamos. Otimista, pensei : “Ah, como são muitas malas grandes, devem transportá-las nesse, enquanto os passageiros vão em um barco maior, coberto”. A essa altura já ventava e chovia muito, e éramos em torno de 40 passageiros.
Com quase meia hora de atraso, apareceu uma moça com o uniforme da Caye Caulker Water Taxi Express e começou a anunciar uma lista com nomes para embarcar...peraí, embarcar ? Cadê o barco ? Sim, era aquele mesmo, o barquinho-quase-sem-teto!! Começou então um empurra-empurra (porque na hora do aperto toda aquela educação dos europeus desaparece...) para ver quem seriam os 6 sortudos que conseguiriam ficar protegidos pelo teto e dividindo espaço com as malas. Conforme a moça anunciava, pulava um branquelo desesperado dentro do barco...e foram nomes e mais nomes e nada de Juliano e Patrícia...até que a lista acabou! Lá vou eu perguntar pelos nossos nomes, enquanto o barco já estava completamente lotado:
- Seus nomes não estão na lista – disse a moça, olhando para o barco, como se quisesse que ele partisse naquele instante.

- E essas duas passagens ?

- Passagens? Deixa eu ver...

Foram mais uns 10 minutos de telefonemas até resolver o problema (que até agora não sei qual foi). Embarcamos e sentamos no único centímetro quadrado ainda disponível.
              
Os 60 minutos entre Caye Caulker até San Pedro, ainda em Belize, onde fizemos a imigração, foram de terror absoluto. Ondas grandes faziam o barco se desprender completamente da superfície, jorrando água para todos os lados...além da própria chuva, que desabava em nossas cabeças sem piedade. Em um certo momento o barquinho começou a ficar repleto de água e o motor a falhar. Por sorte, porque não dá para usar outra palavra, chegamos em San Pedro nesse exato momento, completamente ensopados, a tal ponto que a Pati teve que jogar fora o vestido que estava usando. Parte do dinheiro também ficou encharcado, mas não perdemos nada. Na verdade, o nosso único prejuízo foi um visto cubano molhado, que tivemos que trocar (na verdade comprar) por outro novo no aeroporto de Cancún, mas isso já é outra história...
Ensopados, na fila da imigração (os últimos...), tivemos que esperar ainda um pouco mais... um casal de argentinos, que também estavam no barco e foram os primeiros a embarcar em Caye Caulker, não tinham seus nomes na lista de passageiros, fornecida pela empresa, e que vai para as imigrações tanto de México como de Belize. Ou seja, eles tinham a passagem, vieram no barco, mas como o nome não estava na lista da imigração, não poderiam continuar até o México... além disso não havia mais lugar no novo barco (este coberto, com capacidade para 45 pessoas)!! Já com o otimismo afogado em algum ponto do Caribe, pensei: “Se nosso nome não estava na lista lá, também não vai estar aqui...”. Enquanto os argentinos batiam boca com o oficial, fomos chamados e... surpresa, nossos nomes estavam lá (sim, porque isso, a essas alturas, já é motivo de comemoração)!! Cumprimos as formalidades e lá fomos nós para mais 2 horas e meia de barco, dessa vez fechado e, aparentemente, confortável... mas foi só aparência mesmo!

Com ondas que chegavam a mais de 2 metros, a nossa nova embarcação mais parecia uma aeronave, já que seu casco ficava mais tempo em contato com o ar do que com a água! Isso sem contar as janelas sem trava, que permitiam que jatos de caribe explodissem no rosto e nas malas... do argentino, que conseguiu passar pela imigração!! Já com as vestes secas, por conta de toda centrifugação que nossa viagem na máquina de lavar roupa proporcionou, chegamos a Chetumal, México.
Após enfileirarmos todas as nossas bagagens para o show canino dos oficiais, fomos para mais uma fila de imigração. Parecendo cachorros molhados e com cara de sono, não estávamos muito apresentáveis para uma entrevista, mas essa também foi tranquila. O oficial sequer olhou o visto americano da Pati no passaporte... na verdade estava mais preocupado em fazer piadinhas com todos que chegavam : “ Brasileiros!! Ah, se vocês sambarem, não precisam pagar a taxa!”. Juro que pensei : “Já estou todo molhado, com a barba por fazer, cara de sono... se eu sambar aqui o mico não vai ser tão grande assim e economizamos 52 dólares”. O resquício de bom senso e orgulho próprio que ainda sobraram, pouparam os gringos e mexicanos do espetáculo bizarro...
As 5 horas entre Chetumal e Playa del Carmen, em um ônibus com ar condicionado no máximo, para compor com nossas roupas e cabelos molhados, foram, na verdade, um alívio... terra firme, viva o México e hasta luego!!

 

Um comentário: