domingo, 28 de abril de 2013

Cidade do México : Brega e com muito orgulho!

 
Após a nossa passagem por Playa del Carmen, aguardávamos com certa ansiedade a visita à capital mexicana, afinal de contas era nossa segunda passagem pelo país e até o momento não havíamos visto nada original, nada realmente mexicano. Pois bem, em México D.F. (como eles chamam a cidade e como realmente deve ser chamada, sem o "city" que os americanos inventaram de colocar após o nome) conseguimos o que queríamos! Nossas expectativas se confirmaram... sim, o México é muito, mas muito brega mesmo, como todo bom país latino-americano deve ser! O único problema é que ele, assim como já ocorreu com Playa del Carmen, Tulum e Cancún, está deixando de adotar a sua breguice natural e incorporando a breguice americana.
É inegável e impossível não notar a influência que os vizinhos do norte tem por ali. Um país de culturas e tradições que remontam mais de 2000 anos antes de Cristo está sendo aos pouco engolido e tendo suas tradições anuladas por uma "cultura" que não tem sequer 300 anos. Percebe-se nos museus, nos discursos de jornais, revistas e televião uma tentativa de estimular o mexicano a ter mais orgulho de sua nação... até mesmo aumentando as "proezas" de alguns heróis nacionais e sobrevalorizando outros que não tiveram tanto destaque assim. No México, por exemplo, eles não chamam os astecas com este nome e sim de "Mexicas"... razões semânticas e históricas à parte, só eles no mundo usam esse termo... apesar de terem sido uma civilização que durou menos de 3 séculos e serem fundamentalmente uma sociedade baseada no militarismo, atribuem aos astecas todas as descobertas tecnológicas que foram feitas, na verdade, pelos seus "irmãos" do sul, os maias... aliás, na capital do país a impressão que se tem é que por lá só os astecas deram origem ao povo mexicano; os maias, que também formam grande parte do país, não são tão valorizados assim.
 
 
Bom, neocolonialismos à parte (mesmo porque no Brasil também sofremos essa influência), o brega, os exageros, as cores e a música alta dominam o cenário. Para se ter uma idéia, no metrô a cada parada entra um vendedor portando uma caixa de som tocando música romântica mexicana em um volume que faria o pessoal das bandas de axé repensar sua engenharia acústica. E eles são organizados, assim que um entra, o outro desliga o seu som e vão assim se revezando ao longo do caminho... é curioso, mas é um inferno! Ah, claro, também vendem pulseiras, livros de receitas, bolinhas com luzes coloridas... enfim, tudo que se possa imaginar e comprar. O mexicano, no entanto, é um povo muito amável, educado e prestativo. As ruas da capital são muito organizadas, limpas e bonitas; tudo é muito bem cuidado e o transporte coletivo, muito eficiente, com uma linha de metrô que é quase o triplo da de São Paulo e ônibus que circulam para todas direções. Há também um bom conjunto de ciclovias que conta com vários pontos onde as bikes podem ser retiradas gratuitamente, integrando ainda mais o transporte. Por falar nisso, a ciclofaixa dominical dos mexicanos é pelo menos o dobro da paulistana e conta com vias fechadas por completo, e não parcialmente. E não venha me dizer que a cidade do México é menor que São Paulo ou tem um trânsito menos complexo! O ponto negativo da estrutura fica por conta do cheiro de esgoto que domina a cena no centro... em uma das maiores cidades do mundo, isso não deveria acontecer...
 
 
 Vamos aos aspectos turísticos propriamente ditos. A principal atração da capital é o Zócalo, uma das maiores praças do mundo. Ao redor do grande espaço vazio central (que na verdade estava dominado por um parque de diversões provisõrio da NFL, sobre futebol americano!!) temos a catedral metropolitana e o palácio presidencial, ambos abertos à visitação gratuitamente. Logo atrás da praça está o único monte de pedras que sobrou da gigantesca Technotchitlán, a antiga poderosa cidade-estado asteca. Sinceramente, depois de ver o que vimos do mundo maia, não nos empolgamos com estas ruínas... Ali próximo está a praça Hidalgo, onde fica localizado o palácio de Belas Artes, belíssimo apesar de sua cúpula amarela... Entre as duas praças há um calçadão com vários restaurantes e lojas. Seguindo um pouco mais adiante está a praça da Revolução, cujo principal atrativo é um monumento bizarro, idealizado inicialmente pelo ditador Porfírio Diaz para ser a sede do parlamento mas que, após a revolução mexicana de 1917, transformou-se em um monumento em homenagem ao movimento. A graça da praça fica por conta de uma breguíssima mas divertida dança de águas coloridas que brotam do chão na forma de jatos e que as crianças adoram brincar. Aliás, quase todas as fontes da cidade são liberadas para banho... para aplicar o clima extremamente seco da cidade!
  
 
Seguindo o paseo la Reforma, a avenida mais bonita da cidade, construída pelo imperador Maximiliano na época em que o país foi uma monarquia (sim, o México foi uma monarquia por quatro anos por conta de uma invasão francesa!), chegamos ao Bosque de Chapultepec, um belo parque bem central, com lagos e bosques que atraem milhares de mexicanos no finais de semana. Lá se encontram também os principais museus da cidade, como o da fundação Tamayo e o mais impressionante de todos e um dos melhores que já vimos até agora, o impressionante museu de antropologia. Neste museu estão as principais obras e peças da história dos povos pré-colombianos que existem por lá (outras estão espalhadas pelo mundo, especialmente universidades "calendário asteca", mas que não é realmente um calendário). Ainda nesse bosque encontramos o palácio onde morou o imperador, chamado hoje de castelo de Chapultepec. Um belo castelo europeu encravado no ponto mais alto da região central da cidade.
Saindo um pouco mais para a periferia da cidade, encontramos o agradável bairro de Coyocán, antiga cidade da região metropolitana e que foi "engolida" pela capital. Região mais tranquila, com casario colonial espanhol bem preservado, conta com bons restaurantes e cafés, além do Vivero de Coyocán, um viveiro muito utilizado pelos locais para treinar uma corridinha. Na mesma região encontramos o Museu Frida Khalo, interessante, mas nada que justifique as imensas filas... ela está bem longe de ser a grande artista que os mexicanos acham que foi. Seu marido, Diego Rivera, esse sim foi um grande gênio da pintura. Mas sabe como é, Hollywood já fez filme sobre ela...
 
 
 Para encerrar nossa visita pela capital do ex-império asteca, nada como visitar as ruínas da que foi, em seu tempo, a maior cidade do mundo : Teotihuacan. Muitos a confundem com a já citada Technotchitlán, mas cerca de 500 anos separam uma da outra. Na verdade, os primeiros deram origem aos segundos. As famosas ruínas, no entanto, são em parte uma "fraude". Explico : parte das grandiosas pirâmides que lá estão foram destruídas por guerras, pelo tempo e, segundo alguns, até mesmo pelos próprios cidadãos em tempos de rebeliões. Várias civilizações que vieram depois tentaram remendar o que havia sido degradado, inclusive os próprios espanhóis... mas o resultado foi algo que podemos classificar como "tosco". Pedras de tamanhos e cores diferentes, algumas até com umas pedrinhas pretas, de extremo mau gosto, encravadas no meio...monumentos com geometria deformada, desalinhada... enfim, de longe parece ser realmente algo extraordinário, mas de perto é nítido que praticamente mais nada ali é original... uma pena, mas não deve deixar de ser visitada.
Criamos muitas expectativas em relação à cidade do México e muitas delas não foram realizadas e talvez isso nos deixe uma sensação de algo incompleto em nossa passagem por lá... mas não se leve por essas nossas impressões; a cidade é muito bem organizada e preparada para o turismo, com várias atrações interessantes, muita história, povo simpático e um dos melhores museus do mundo! Por tudo isso, e pela breguice cativante, merece ser visitada... enquanto os americanos não tomam conta de tudo por lá também...
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário