sexta-feira, 29 de março de 2013

A "desconhecida" e fantástica Guatemala - Parte 02


Outra atração obrigatória em uma visita à Guatemala é conhecer o mercado de artesanato de Chichicastenango, nada menos que a maior feira a céu aberto do gênero no continente americano e uma das 3 maiores do mundo!
Após cerca de 2 horas de carro de Antigua, chegamos ao multi-colorido mercado maia. Chichicastenango é uma pequena cidade no altiplano guatemalteco e que aos domingos e quintas tem suas ruas tomadas por pequenas mulheres e homens vestidos com roupas típicas e coloridas, vindos de várias regiões próximas e que tentam de tudo para vender seus produtos. Eles montam suas barracas ao longo das estreitas ruas da cidade, onde vendem todo o tipo de artesanato maia. E olha que variedade de produtos é o que não falta : são máscaras, roupas, tecidos, brinquedos, amuletos, toalhas, todos muito bem trabalhados e bem diferentes do artesanato que estamos acostumados a ver por aqui e ao redor do mundo... ou seja, são realmente produtos de origem maia e não bugigangas "made in china" !! Além disso, no mercado você também encontra um setor de alimentação típica, em que são vendidas tortillas, ensopados de peixe ou frango e muitas frituras; tudo sempre bem apimentado! Para completar a mistura de crenças e culturas, há uma igreja na parte mais alta da cidade, bem destacada no meio da feira, que mostra todo o sincretismo religioso da Guatemala, que teve o catolicismo imposto pelos jesuítas (como nosso novo papa...). Lá você pode ouvir uma autêntica missa... em dialeto maia. Divindades maias se misturam aos santos da igreja católica e completam o caldeirão. Nas escadarias da igreja são vendidos todos os tipos de plantas e ervas para... bruxaria!! Por falar nisso, é possível ouvir por todos os lados vendedores de "garrafadas" mágicas contra os mais diversos tipos de doenças. O mercado está sempre cheio e as maias, baixinhas, ficam o tempo todo passando como balas por nós, na maioria das vezes sem muita educação... Chichicastenango é garantia de boas (e baratas) compras, muita pechincha e grande aprendizado cultural!


Completando as atrações nos arredores de Antigua, estão as Fincas de café. O café da Guatema é, ao lado de Brasil, Colômbia e Índia, considerado um dos melhores do mundo (na minha opinião, o melhor). Seu sabor mais adocicado, porém intenso, tem características diferentes do nosso, mais encorpado, mas esse contraste (como tudo nesse país) gera um equilíbrio e harmonia que o tornam único. Uma visita a uma dessas fazendas pode ser uma experiência bem interessante; além de conhecer os processos de produção, pode também fazer uma degustação e, em algumas delas, até mesmo trilhas de bicicleta e rapel! Conhecemos a Finca Filadélfia, próxima ao perímetro urbano de Antigua, e que conta com um luxuoso hotel, várias atividades ao ar livre, um bom restaurante e, lógico, uma plantação de café. Se você é, como nós, apreciador de um bom café, a parada é obrigatória!
Além de tudo isso ainda existem outras atrações próximas a Antigua que não visitamos por falta de tempo, como o lago altiplânico de Atitlán, às margens de vulcões e que foi o preferido de Hemingway. Como você pode notar, Antigua merece no mínimo uma visita de 5 dias... mas as atrações da Guatemala não acabam por aqui, ainda existe a maior delas e que foi motivo de um post exclusivo (Curiosidades sobre o mundo dos maias), as ruínas de Tikal!


As ruínas de Tikal formam o maior complexo arquitetônico maia ainda preservado do mundo. A cidade de Tikal foi a principal cidade-estado do império e sua capital. Rivalizava com suas vizinhas a leste, Caracol (hoje em Belize) , ao norte, Palenque (hoje no México) e tinha como aliada Copán, ao sul (hoje em Honduras). Ainda outras cidades compunham a região, como Tulum e Cobá (na península de Yucatán, México). Nesse parque, extenso e que requer bom preparo físico para percorrer seus quilômetros e subir e descer íngremes escadarias (com um calor intenso), encontramos belos conjuntos arquitetônicos ainda bem preservados, apesar da maior parte deles ter mais de mil anos de história, representando templos, mausoléus, prédios administrativos e o impressionante "Mundo Perdido", um complexo astronômico usado como base para o famoso calendário maia. Fiz esse passeio em 2009 sem guia e agora com um, e posso dizer que a diferença é enorme. Pague um pouco a mais e contrate os serviços de algum maia (credenciado) da região, vale muito a pena. Seguindo a tendência dos parques arqueológicos no México, a Guatemala também começou a proibir a subida em vários dos templos (2 deles, que escalei em 2009, já estavam interditados). A cidade base para a exploração das ruínas é a pequena e charmosa Flores, uma ilha artificial construída pelos maias há mais de 600 anos! Com um imenso lago ao redor, a ilha conta com vários hotéis, pousadas e alguns restaurantes. É uma boa base, mas não tem muitas atrações.

         

Bom, essa é a incrível Guatemala, um destino ainda desconhecido para a grande maioria dos brasileiros, mas que merece uma visita...quem sabe quando for tirar suas férias em Cancún, reservar uns 10 dias para esse país tão rico culturalmente? Próximo destino, Belize, apenas 5 horas de ônibus... lá vamos nós!

quinta-feira, 28 de março de 2013

A "desconhecida" e fantástica Guatemala - Parte 01


Quando fui a primeira vez à Guatemala, muitos me perguntaram "O que você vai fazer lá?". Respondia alguma coisa que havia lido nos guias e outras que meu amigo que morava lá na época e que ia visitar, o Eugênio, havia me dito... mas nem mesmo eu estava convencido do que teria pela frente. E foi uma enorme e grata surpresa, tanto que, quando eu e a Pati decidimos dar a volta ao mundo, julguei essencial acrescentar esse belo e curioso país à lista!
A Guatemala foi por muito tempo um dos países mais pobres do continente, envolvido em guerras civis e muita violência. Berço do mundo maia, foi um país "picotado" por acordos mal feitos e guerras : perdeu parte de seu território para o México (Yucatán), perdeu o Belize para os ingleses em troca de uma ferrovia que nunca foi construída, perdeu a região sul para Honduras... Foi envolvida em mais de 30 anos de guerra civil (aquela mesma história, a CIA apoiou um golpe de Estado, assumiu um ditador e por aí vai...), terminada há pouco mais de 15 anos e que ocasionou ao menos 150 mil mortes. Tudo isso sem contar a questão das "Maras", as gangues de rua das grandes cidades, formada por guatemaltecos, salvadorenhos e hondurenhos que emigraram para os EUA (principalmente fugindo de guerras e ditaduras), mas que de lá foram expulsos por cometerem crimes ou outros delitos, e que retornaram para formar verdadeiras máfias e aterrorizar a população. Realmente, esse não era um país para se visitar há alguns anos. Mas a situação mudou bastante !


Quando fui para lá a primeira vez, em 2009, ainda se viam guardas particulares com escopetas ou metralhadoras nas portas de farmácias e lojas de conveniência. Não preciso nem dizer, então, como estavam armados vigias de banco e policiais... Desta vez não vi nada disso. Chegamos no Aeroporto Internacional, que fica na cidade da Guatemala, a capital, e de lá fomos direto para Antigua (ou Antigua Guatemala, seu nome "completo"). Esta cidade é, junto com as ruínas maias de Tikal, a maior atração turística do país. Antigua foi durante quase duzentos anos a capital da América Central espanhola, que correspondia à província da Guatemala e que compreendia o que hoje são a própria Guatemala, parte do México, Honduras, El Salvador, Nicarágua e Costa Rica. Era uma cidade rica e poderosa, o que pode ser notado pela imponência de suas igrejas e catedrais (hoje, a maior parte em ruínas...), todas sempre acompanhadas de uma bela praça com fontes jorrando água o tempo todo. Casas muito bem cuidadas e preservadas, com suas janelas decoradas e amplas, ruas largas e alamedas extremamente floridas. Isso sem falar na plaza de armas, a principal da cidade, cercada pelos prédios administrativos, com suas belas arcadas, vigiados todos pela grande Catedral. Claro, sem esquecer que, tomando conta de tudo isso, está o vulcão Água, visível em qualquer ponto da cidade. Ela é realmente muito bonita e qualquer descrição não é suficiente para caracterizar o clima que sentimos quando caminhamos por suas ruas.


Mas a mesma natureza que torna Antigua tão bela, fez com que boa parte dela hoje seja tomada por ruínas. A cidade foi contruída à beira de vulcão (inativo há séculos) e sobre uma placa tectônica. Inicialmente a idéia dos espanhóis era aproveitar o solo extremamente fértil... mas o plano não deu certo. Inúmeros terremotos assolaram a região, dois dos mais intensos com 2 séculos de diferença (1776 e 1976). O resultado disso é que praticamente não existe igreja ou catedral de pé na cidade. Eles até faziam restaurações, mas logo vinha um tremor e derrubava tudo novamente. A opção foi deixar como estavam, muitas delas apenas com escombros, algumas ainda preservadas, mas todas de uma imponência que faz com que imaginemos a grandiosidade dessa capital do Império há 300 anos atrás. Aliás, por falar em capital, foi justamente por conta desses terremotos que os espanhóis decidiram mudar a sede do governo para a atual localização, na cidade da Guatemala (ou Nueva Guatemala, mas ninguém a chama assim...). Nosso guia até nos contou algo que carece de confirmação histórica: para forçar as pessoas a desocuparem Antigua e se mudarem para Guatemala, o próprio exército demolia algumas Igrejas e casas... se for real, é muito cruel. Outra curiosidade, vários santos das Igrejas estão sem cabeças! Mas isso não acontecia por questões religiosas, e sim pelo mercado negro de imagens santas!! De qualquer modo, a maior parte das igrejas, catedrais, conventos e palácios estão abertos à visitação. Os que mais valem a pena e que recomendamos são a Iglesia de La Merced, que tem a maior fonte contruída nas Américas e uma das maiores do mundo; e o Convento de Santo Domingo, que hoje é um hotel de luxo, mas que contém vários museus e partes bem preservadas do antigo convento e igreja.


Como se não bastassem todas as atrações que existem na própria cidade, Antigua também está próxima de pelo menos 3 outras atividades obrigatórias para quem visita a Guatemala : escalada no vulcão (ativo) Pacaya, visita ao mercado Chichicastenango e visita a uma fazenda ("finca") de café.
Não são muitos os lugares do mundo que te oferecem a possibilidade de subir quase até a boca de um vulcão ativo, não? Pois na Guatemala você consegue! O Vulcão Pacaya, que fica apenas 40 Km da cidade da Guatemala, está em atividade (vídeo no youtube : vulcão Pacaya, março de 2013), sendo sua última erupção em 2010. Tive a sorte de visitar o vulcão em 2009 (quando vi lava a menos de 2 metros de onde estava) e agora. Por conta da explosão de 3 anos atrás, não é possível mais visualizar a lava escorrendo, mas ainda se faz a subida até o topo com direito a assar marshmallows nas brasas (quem quiser, pode ver o vídeo no youtube : assando marshmallow no Pacaya), pertinho da boca do Pacaya. É uma subida cansativa, íngreme, de cerca de 1 hora e meia, mas vale a pena, não só por ficar tão perto de um vulcão ativo, mas também pelo visual que a escalada proporciona. A Guatemala é um dos países que mais tem esse tipo de formação geológica, e lá de cima é possível visualizar 3 deles alinhados, o vulcão Água, o Acatenango e o Fogo (que ainda está ativo). Paisagem incrível, só estando lá para crer! Se for fazer esta escalada, vá com tênis de trilha, caso contrário seus pés ficaram com cinzas de vulcão por um longo período!

      

Continua no próximo post!!


domingo, 24 de março de 2013

Curiosidades sobre o mundo dos Maias


- O conjunto de ruínas de Tikal consiste em templos e alguns prédios administrativos. Poucos moravam no centro da cidade (apenas nobres e sacerdotes), que era dedicado à realização de cerimônias religiosas e administração. Os habitantes moravam na periferia ou em alguma cidade satélite (parece com a capital de um certo país que conheço...).

- A estrutura básica das praças cerimoniais era constituída de um templo maior (que em alguns casos era um mausoléu, em outros era homenagem a algum Deus), uma grande praça a sua frente e uma terceira estrutura, que normalmente era formada por um conjunto de oratórios ou mesas para a realização de sacrifícios. Estas 3 estruturas formavam sempre um triângulo. Todo governante deixava sua praça cerimonial como marca de obra em sua administração (familiar, não?)

- Ao contrário do que muitos imaginam, os maias raramente realizavam sacrifícios humanos (apenas em casos de disputa política). Além disso, como eram primordialmente vegetarianos, enterravam os animais sacrificados abaixo das pirâmides. Os sacrifícios eram realizados nas praças em frente às pirâmides e nunca nas próprias (como mostram os filmes), que eram locais sagrados. Quem fazia sacrifícios humanos no alto de montanhas ou templos eram os incas.

- Os maias foram precursores dos jogos de bola, mas estes não tinham finalidade lúdica ou esportiva e sim religiosa ou política. Em Tikal, por exemplo, disputas de poder eram decididas "em campo", sendo o perdedor, sacrificado.

                                                           campo de jogo maia

- Os maias conheciam a roda mas não a utilizavam para fins práticos, apenas decorativos.

- Não sabiam, também, trabalhar os metais. Contudo, sabiam trabalhar primorosamente o minério jade, que hoje tem grande valor comercial. Os reis maias eram enterrados com máscaras e ornamentos feitos com este material. Ouro e prata foram materiais mais utilizados pelos incas.

- Apesar de serem pessoas de baixa estatura, os degraus de seus templos são muito altos e estreitos, o que torna as subidas muito difíceis e sofridas, já que estão associadas ainda a um calor intenso. Isso por que o templo (que eles chamavam de "montanha sagrada") deveria representar o sacrifício pelo qual deveriam passar antes de ter contato com os Deuses. Nada deve ser fácil, muito menos estar próximo de um Deus! O sofrimento fazia parte do rito religioso.

- Ao contrário de muitas civilizações, para os maias a mulher sempre foi sagrada; existiam deusas e pirâmides foram construídas em sua homenagem


- Existiam 6 números sagrados:
# número 3 : Representa os 3 mundos; Céu , Terra e Inframundo.
# número 5 : O calendário maia era formado por 18 meses de 20 dias. Além disso existiam 5 dias extras após esses 360 que eram reservados para diversão e festas. Faz referência também aos 5 sentidos humanos.
# número 7 : Representava os sete chacras do corpo.
# número 9 : Nove deuses do inframundo. Estava relacionado também aos nove orifícios sagrados do corpo.
# número 13 : Treze deuses na Terra e no Céu. Segundo os maias, são 13 as articulações importantes do corpo
# número 20 : Quantidade de dias no mês do calendário maia. Número de dedos no corpo humano.

- Estes números obedeciam, além de critérios religiosos, características físicas; o que para eles era uma mensagem de que todos são iguais.

- O "Mundo Perdido", nome dado pelos arqueólogos às ruínas que correspondiam ao centro astronômico de Tikal, foi construído na mesma época que os Jardins Suspensos da Babilônia, sendo uma obra tão grandiosa quanto... mas que ainda está de pé!


- Os maias nunca falaram que o mundo iria acabar em 21 de dezembro de 2012. Esta data marcava sim o fim de um ciclo completo, que se iniciou no ano de 3114 AC, para eles o ano zero. Como eram grandes astrônomos (o que astrônomos europeus observaram há 500 anos, as crianças maias aprendiam no berço há mais de mil...), basearam seu calendário em um complexo, porém detalhadíssimo e preciso, mecanismo de cálculo de datas baseados nos solstícios e equinócios ao longo dos anos e no alinhamento do Sol com 7 grandes estruturas construídas uma ao lado da outra... o tal "Mundo Perdido". Através de seus cálculos, descobriram que o Sol completaria um ciclo de 5126 anos e se alinharia com o centro da estrutura principal desse complexo de "templos" em 21/12/2012... mesma data em que o sol se alinhou com o centro da Via Láctea!!

- Cientistas da NASA descobriram que, após o Tsunami de 2006, o eixo de rotação da Terra alterou em 9 segundos... No dia 21/12/2012 foram ao alto da "pirâmide" do Mundo Perdido para registrar o alinhamento do Sol com o centro da Via Láctea e... surpresa, ele não aconteceu!! O fato, na verdade, só ocorreu nove dias depois, em 30/12/2012... Os maias eram cientistas, não videntes... não dava para saber que um tsunami iria mudar o eixo de rotação do planeta!!

- Os maias detestam o Mel Gibson e seu filme Apocalypto por conta das baboseiras que lá aparecem

segunda-feira, 18 de março de 2013

Colômbia : Cartagena de Indias


Quem já leu alguma obra de Gabriel Garcia Marquez com certeza já pensou em como deveria ser aquele ambiente em que viviam seus personagens. O clima quente e úmido do Caribe colombiano, as ruas estreitas, os casarões com amplas janelas e seus balcões todos cobertos por flores, as vendedoras de frutas nas ruas com suas roupas coloridas, os elegantes senhores vestidos todos de branco com seus chapéus Panamá...Enfim, toda aquela atmosfera que nos absorve durante a leitura está ali, diante de nossos olhos (e produzindo muito suor em nossa pele...). Mas Cartagena é muito mais que tudo isso, como se já não fosse pouco!!
Cartagena foi o principal entreposto comercial dos espanhóis no período colonial. Porta de entrada e saída de produtos, foi também um grande porto receptor de escravos. Isso fica bem nítido na constituição de sua população, predominantemente negra, diferentemente da população da capital, com traços mais indígenas. Por conta de sua localização, a cidade foi alvo de piratas durante muitos anos (na verdade séculos), como o famoso sir Francis Drake, o que forçou os espanhóis a transformarem Cartagena em uma das cidades mais protegidas do mundo, naquela época. Cercada por uma grande muralha, ainda bastante preservada, com canhões a cada 5 metros e uma enorme fortaleza na parte alta da cidade (a maior já construída pelos espanhóis fora da Europa), com um incrível sistema de túneis. Foi sede também de um dos dois tribunais da Inquisição na América Espanhola (o outro está em Lima) e sede monumentais palacetes e igrejas. Teve também grande contribuição nos movimentos de independência da região.


O segredo para se aproveitar ao máximo de Cartagena, é se perder por suas ruas. Vá caminhando, explorando as "calles" estreitas, com seus enormes casarões e suas sacadas floridas. De repente você vai se deparar com uma bela praça, onde estará uma catedral, uma praça logo em frente e a escultura de algum famoso artista. Dê uma olhadinha no mapa, para saber do que se trata (claro!), e continue explorando. O ponto de partida é sempre a "entrada oficial" da cidade murada, a Torre do Relógio. Logo de cara você já encontra uma das praças mais famosas, onde está a estátua de Pedro de Heredia, o fundador da cidade e, mais ao fundo, as doceiras logo abaixo da passarela de arcos. Seguindo pela esquerda, uma outra praça, a da prefeitura, a maior da cidade, cercada pelos belos prédios administrativos daquela época. Seguindo em frente, a Catedral mais importante da cidade, cercada por cafés e restaurantes. Dali você pode escolher subir a muralha e contornar toda a cidade, cruzando com vários bares e restaurantes e com vista para o Caribe (que nessa parte da cidade é acinzentado) e sua constante brisa. Se preferir, perca-se pelas ruas e descubra a praça da inquisição, a mais arborizada da cidade, cercada por outra catedral, restaurantes e o bom Museu da Inquisição, que conta boa parte da história (mesmo que tendenciosamente) desta instituição por estes lados. Cartagena conta com pelo menos 10 praças, todas agradáveis e ótimas para se sentar em um banco ou uma mesa de bar e ver o dia passar.


Cartagena tem também seu lado "Miami". O lado leste da cidade, uma península chamada de Bocagrande, é tomado por prédios e mais prédios, todos sofisticados e ruas que nada lembram o centro histórico. Todos eles seguem a orla da praia de mesmo nome, uma praia, para os padrões brasileiros, feia, com mar agitado e água cinzenta, que nada lembra o Caribe que estamos acostumados a ver nas fotos. A areia é também cinza, tomada por barraquinhas de diversos tamnhos e cores, dando um aspecto de bagunça, não muito agradável. Além disso, a praia não é das mais limpas e o assédio de vendedores e pedintes é grande. Aliás, esse um ponto negativo em Cartagena. Os pedintes, vendedores, garçons em frente aos restaurantes, artesãos e agentes de turismo, não te dão um segundo de paz, lembrando muito o assédio nas ruas do Pelourinho, em Salvador. Mas tudo bem, logo você se acostuma e nem nota mais a presença deles... pelo menos não são tão insistentes, normalmente desistem depois de um "No, muchas gracias". Resumindo, se você procura praia, não é nesta que gostará de ficar.
As melhores praias em Cartagena ficam distantes cerca de 35 Km do centro. A principal delas é a Playa Blanca, que tem esse nome em virtude da cor de suas areias. Ah sim, a cor do mar é a "tradicional" do Caribe.


O acesso até lá pode ser feito de duas maneiras : por terra ou por mar. Por terra, o que recomendamos, apesar de ser um percurso de cerca de duas horas e meia, com direito a balsa; você pode fazer através de um táxi (e combinar a volta) ou de um passeio de Chiva, o tradicional meio de transporte do Caribe colombiano, que nada mais é que uma jardineira colorida e desconfortável, que fica tocando salsa sem parar. Esse meio de transporte também é utilizado em tours noturnos, em que os turistas são levados para um city tour, com muita salsa e rum com soda a vontade, terminando em alguma casa noturna. Bom, voltando à playa Blanca, o outro meio para se chegar lá é por barco. É o meio mais rápido, mas, diferentemente do que possa parecer, é também o mais perigoso. Você pode ir de barco através de uma passagem direta até a praia ou, o que é mais comum, combinado com um tour pelhas Islas del Rosario. Essas ilhas são um aglomerado de pequenas formações, sem praia e sem grandes atrativos naturais, além do próprio mar do Caribe. Lá você pode visitar um aquário sem graça até mesmo para crianças, e fazer um snorkeling, sem graça para quem já fez outros e quer algo mais. Após essa rápida visita, o tour leva até a playa Blanca, um recanto agradável, com águas verdinhas, areia branca e o mesmo monte de barraquinhas e vendedores, mas confesso, sem bairrismo, que as praias de Macéio, por exemplo, são tão ou mais bonitas e com uma estrutura muito melhor. Agora voltemos ao passeio de barco. Já havia lido em vários guias e ouvido de outras pessoas que os "barqueiros" colombianos eram malucos e imprudentes. Em princípio pensei que era coisa de quem não estava acostumado... até fazer o passeio. Foi traumatizante! Chegamos em Cartagena em uma época de maré cheia e alguns passeios estavam sendo até mesmo cancelados por conta disso... e entendemos logo o porquê. O mar do Caribe não é tão calminho como muitos pensam, e em época de maré alta, suas ondas chegam até a 4 metros de altura... isso somado à irresponsabilidade dos barqueiros, foi igual a um tour em que todos saíram prometendo nunca mais andar de barco na Colômbia! Quem quiser ter uma amostra pode dar uma olhadinha em nosso vídeo no youtube : Tour de arrepiar pelo mar do Caribe


Para finalizar, outra grande atração de Cartagena é o Castelo de San Felipe Barajas, a fortaleza construída pelos espanhóis para defender a cidade dos inúmeros ataques de piratas que a cidade sofreu. A construção é realmente imponente, com paredes espessas, um sistema incrível de túneis e compartimentos de armazenamento de pólvora e munições. A vista lá de cima também é incrível.
Outro grande atrativo da cidade é a gastronomia. Nunca vi uma concentração tão grande de restaurantes tão bons por metro quadrado. Em Cartagena, praticamente cada esquina tem um restaurante que teria 3 estrelas no guia quatro rodas facilmente, e com preços bastante acessíveis! Isso sem contar as sorvetrias e cafés... prepare-se, Cartagena é bela para os olhos e tentadora para o nosso paladar!! Se quiser mais detalhes, dê uma olhada em nosso post de gastronomia colombiana em Culinária e gastronomia na Colômbia.
O único ponto que lamentamos em Cartagena, além do assédio de pedintes e vendedore, foi a ausência quase que total de referências a Gabriel Garcia Marquez. Não há um centro cultural ou qualquer tipo de estátua, monumento, seja lá o que for, homenageando o grande nome da literatura colombiana e que é o "responsável" por muitos sonharem com essa fantástica cidade!! De todo modo, Cartagena é única e deve ser destino obrigatório para todos que gostam de arte, história, boa comida e o fantástico clima do Caribe!!

quinta-feira, 14 de março de 2013

Colômbia : Culinária e gastronomia


A riqueza colombiana não está só no ouro, levado quase todo pelos espanhóis, nem somente em seus talentosos artistas, como Botero e Gabriel Garcia Marquez (vejam bem, se não mencionei a Shakira, não foi por esquecimento); mas também em sua culinária ! Extremamente variada, a cozinha colombiana oferece pratos para todos os tipos de gostos; desde amantes de frutos do mar até carnívoros inveterados encontram aqui sabores que surpreendem até mesmo os paladares mais experimentados.
A cozinha colombiana pode ser dividida basicamente em duas : a culinária das montanhas e a culinária do litoral. Vou dar a nossa experiência sobre cada uma.
Na montanha, como em Bogotá, predominam as carnes, ensopados e frituras. Assim como em seus vizinhos de altiplano (equatorianos e bolivianos), a base da alimentação é o milho e a mandioca. No quesito "comidas de rua", destacam-se as frituras feitas a base milho e recheadas com carne, ovo e, algumas vezes, queijo. É a tradicional arepa, encontrada também no litoral, essa fritura parece muito um risoles gigante, recheado com ovo e carne moída. Encontramos também os deliciosos carimañoles, que são bolinhos de mandioca recheados com queijo branco derretido...sensacional! Encontramos também algumas bizarrices, como bananas fritas recheadas com queijo e alguns miudos fritos de animais pouco convencionais...
No que diz respeito à comida de "restaurantes", o prato típico é o ajiaco, uma espécie de canja em que o arroz vem separado, acompanhado de alcaparras e abacate. No caldo encontramos mandioca e batata, além de creme de leite e um milho cozido no palito! Parece estranho, mas é delicioso! Experimentamos um dos mais tradicionais da cidade, o do restaurante la Puerta de la Tradición.


No que diz respeito às carnes, os colombianos da altitude também não deixam nada a desejar. Carne de cordeiro, boi, frango e porco, preparadas com os temperos locais. Fomos a um dos melhores e mais conhecidos restaurantes de Bogotá, o Andres DC, filial do mais famoso ainda Andres Carne de Res, que fica em uma cidade da região metropolitana da capital, a cerca de 30 Km do centro. O que fomos é mais central, fica na região "rica" e gastronõmica da cidade, conhecida como zona rosa. Comi um delicioso lomo em vino ajisoso : 330 gramas de carne, na chapa quentinha, espirrando óleo para todos os lados, com chimichurri, reduzido no vinho e com papas criollas. O detalhe ficou por conta da recepção que tivemos por nossa lua de mel : 3 músicos foram a nossa mesa e cantaram o clássico "la Manisera", enquanto colocavam em nossas cabeças uma coroa e arremessavam papéis em formato de coração (se quiser ver o vídeo desse mico, clique em Mico número 01 ). Para beber, o tradicional suco de amora, que para eles é como se fosse o nosso suco de laranja. Por falar em suco, aqui eles tem uma grande variedade : guanabana, lulo, manga, no leite ou na água... aliás, sempre deixe isso bem claro quando for pedir a bebida na Colômbia : com ou sem leite, mesmo que seja chá!


Bom, agora vamos à minha parte preferida, a culinária caribenha!! O litoral caribenho da Colômbia é extremamente colorido e variado, e isso se reflete na sua cozinha. Obviamente o forte são os frutos do mar, com seus temperos característicos (como por exemplo o, urgh, coentro), uma pitada da pimenta da América Central e o equilíbrio agridoce do oriente. Cartagena é um grande centro gastronõmico, repleta de restaurantes premiados e excelentes, que percorrem toda cozinha internacional, desde a japonesa à peruana, da caribenha à italiana. Mas, apesar disso, um restaurante que me chamou a atenção foi um bem simples, chamado Central Antilhana, com um cardápio sofisticado de frutos do mar, que incluia desde uma deliciosa cazuela de mariscos com camarão (um tipo de moqueca, mas com temperos caribenhos) acompanhada do sempre presente e espetacular arroz de coco, até os mais diversos tipos de peixe como mero, corvina, robalo e dourado, assados com temperos agridoces. Para acompanhar, pedíamos algumas vezes a refrescante limonada de coco, um suco de limão batido com pedaços de coco, como se fosse um frapê, só que ao invés de leite, coloca-se a limonada! Outro prato delicioso que experimentamos foi no moderninho restaurante La Perla, um polvo grelhado e recheado com risoto de camarão cremoso. Vizinho ao La Perla, estava o el Bistro, restaurante francês comandado por um alemão, onde comemos peixe espada! Enfim, posso ficar mais 50 linhas descrevendo as delícias do caribe colombiano, mas acho que essa amostra já é o suficiente


E as sobremesas? É claro que elas também são espetaculares. Em Bogotá há vários cafés e neles você pode encontrar os doces que encontra em qualquer lugar do mundo : mil folhas, tortas, bolos, etc. Mas só em Bogotá eu vi um dos doces mais simples e mais gostosos que eu já provei. Foi em uma barraquinha de comida de rua no santuário de Monserrate, no alto da montanha, que provei um tipo de coalhada na forma de queijo, acompanhado de "arequipe", o doce de leite local, geléia de amora e goiabada... só de lembrar já começo a salivar!! No litoral, a especialidade é o sorvete, especialmente o picolé da la paletteria, um dos melhores que eu já provei. Era nossa parada obrigatória uma ou até duas vezes ao dia, para aplacar o calor infernal de Cartagena!


E para fechar o assunto, as cervejas, claro!! Cumprindo o nosso plano de eleger a melhor cerveja popular do mundo, experimentamos as duas principais da Colômbia : a Aguila e a Club Colombia.
A primeira é mais popular, tomada pela massa, mais fraquinha (aguada...) e de fácil aceitação; a Skol deles... A segunda é mais encorpada, encontrada na forma tradicional, negra ou bock. Mais cara, é a preferida dos "remediados". Por questão de gosto, apesar de toda "pompa", ficamos com a Club Colombia, que recebe o nosso voto; a nota será dada posteriormente, através de comparação. A melhor cerveja, no entanto, é a BBC, que não é uma cerveja de "supermercado", como as outras, e sim feita artesanalmente. Em Bogotá há vários pubs dessa cervejaria e uma parada lá é obrigatória! Só para não deixar de citar, o país também tem, como todos os outros, o seu "refrigerante nacional que os locais não tomam", que é uma tubaína avermelhada chamada Colombiana (criativo, não?).
Bom, ficamos por aqui e até o próximo post gastronômico!!

domingo, 10 de março de 2013

Colômbia : Bogotá, você precisa conhecer!


Para definir Bogotá em uma só palavra : surpreendente! A capital colombiana é um destino que, nos últimos anos, vem recebendo um número cada vez maior de turistas brasileiros. Mas, infelizmente, esse fluxo é muito mais por ser esta cidade uma ponte para os destinos do Caribe (San Andres e Cartagena) que por suas atrações turísticas. Bogotá tem muita coisa a oferecer e passar menos de 3 dias nesta cidade é desperdiçar sua culinária, arquitetura, museus, enfim, você deixará de conhecer uma das mais interessantes capitais sul americanas!
Vamos começar pelas atrações principais. O ponto principal de visitas dos turistas, tanto colombianos como estrangeiros, é o Monserrate. Bogotá é vigiada por dois grandes montes, o Guadalupe (que também tem um santuário, de mais difícil acesso) e o Monserrate, onde fica o maior centro de peregrinação religiosa da Colômbia. A cidade toda foi construída paralela a esse monte, com ruas sendo numeradas de 1 até mais de 100 (não sei quantas, mas são muitas), sendo a primeira a mais próxima do monte. No alto do morro está um santuário, da virgem de Monserrate, que atrai milhares de peregrinos, especialmente aos domingos, dia em que fomos. O acesso é bem fácil. Recomendo subir de funicular, chegando na parte mais baixa. De lá, percorra a "via crucis", com as 14 estátuas contando a paixão de cristo, e que termina aos pés da Catedral, no ponto mais alto da montanha, de onde se tem uma bela vista de toda a cidade. Logo atrás da catedral, você encontra uma feira com barraquinhas de artesanato e uma variedade imensa de comida típica, incluindo aí vários tipos de empanadas, banana frita recheada com queijo e um prato delicioso feito com um tipo de coalhada, cheio de doce de leite, goiabada e geléia de fambroesa. Para descer, é só pegar o teleférico que fica ali ao lado, na parte alta. Outra opção, a preferida dos peregrinos, é subir a pé até os 3200 metros de altitude do morro. Não somos tão religiosos assim...

                                               Bogotá vista do alto do Monserrate

 
                                                                     A Catedral

O Centro Histórico de Bogotá, conhecido como Candelária, também é muito bonito. Suas ladeiras lembram um pouco o Pelourinho, em Salvador, mas com a arquitetura típica das colônias espanholas, com aquelas varandas ou balcões saltando para fora das casas e com as ruas direcionando para grandes plazas, no caso de Bogotá a plaza Bolivar, onde está a mais imponente catedral da cidade, a Catedral Primada, o senado federal e o palácio de justiça. Atrás desse complexo, encontra-se o palácio presidencial. O conjunto arquitetônico é, no geral, bem preservado, tendo muitas dessas casas transformado-se em museus. Aliás, esse é um capítulo a parte em Bogotá. Seus museus são muito bem estruturados, didáticos e muito interessantes. Mas o principal deles não é isso, e sim o fato de que a maioria deles tem entrada gratuita! No domingo todos o são e, durante a semana, a maioria deles, como o museu da Casa da Moeda e o Museu Botero, também. O mais impressionante é, sem dúvida, o Museu do Ouro, com uma coleção infindável de peças de toda a América do Sul, muito bem trabalhadas e distribuídas de maneira cronológica e de importância histórica, além de várias explicações sobre os métodos para confecção das peças. Mas, na minha opinião, o melhor é o Museu Botero, com as principais peças do artista mais famoso da Colômbia (artista de verdade, não a Shakira...), além de obras de Dali, Picasso, Monet, entre outros! E o melhor de tudo, de graça, todos os dias!! Anexo a ele, está o também interessante Museu da Moeda, que vale a visita. Outro museu de Bogotá que merece uma visita é o enorme e completo Museu Nacional.


                                                          peça do Museu do Ouro


                                                            Gordinha tomando sorvete

Para quem gosta de alta gastronomia, shoppings modernos, lojas caras, carros importados e madames com cachorrinhos nas ruas, Bogotá também oferece seu espaço. É a chamada Zona Rosa, a região gastronômica, chique e baladeira da cidade. Começa ao redor da rua 82 e vai até o Parque da 93, que fica na rua de mesmo número. Ao redor deste parque, que na verdade é uma praça, encontram-se vários restaurantes e bares de boa culinária e que valem muito a pena para tomar uma cerveja no final da tarde (de preferência na BBC, Bogotá Beer Company). Ali perto, na rua 82, fica a filial do restaurante mais famoso da cidade, o Andres D.C., "irmão" do Andres Carne de Res, que fica a 30 km da cidade. Da rua 69 até a 71 fica a Zona G, outro ponto gastronômico do bairro
E para concluir, outra grande atração de Bogotá, que na verdade não fica propriamente na capital, mas em uma outra cidade, distante cerca de 40 Km, chamada Zipaquirá, é a Catedral de Sal, considerada pelos colombianos como sua primeira "maravilha" (o que eu discordo redondamente). Trata-se de uma mina de sal, uma das maiores do país, que teve uma parte inativada (cerca de 10%) para a construção de uma enorme catedral, toda ela feita com o sal de lá extraído. A catedral não tem o formato convencional, mas possui uma nave central e vários salões amplos, com colunas e belas esculturas. A iluminação é um show à parte, e no final do percurso é oferecido um interessante show de luzes. No final, ainda há a possibilidade de visitar um museu arqueológico, com várias peças do período pré-colombiano. Considero a visita à catedral obrigatória a quem vai a Bogotá, independentemente da religiosidade!


                                                     uma das estações da via crucis

                                                       a nave central da Catedral de Sal

E aí está, a nossa primeira cidade visitada nessa volta ao mundo que acaba de começar! Bogotá realmente é uma cidade que vale muito a pena ser visitada e curtida; quem passa por aqui somente como uma ponte para outros destinos está perdendo a oportunidade de conhecer uma cidade acolhedora , com bela arquitetura e culinária espetacular... você precisa conhecer!!

quarta-feira, 6 de março de 2013

Colômbia: Um país muito seguro !


Quando começamos a planejar nossa volta ao mundo, o primeiro país que surgiu na lista foi a Colômbia, e não foi só a proximidade geográfica o motivo desta escolha. Muitos amigos e até mesmo a própria Pati pensaram : " O que você vai fazer lá?". Bem, o país de Gabriel Garcia Marquez tem muito a oferecer!
Por muitos anos, realmente, a Colômbia era um destino turístico tão desejado quanto o Afeganistão. Violência urbana, sequestros de estrangeiros, ações terroristas das FARC, dos narcotraficantes... enfim, era isso que víamos pela televisão e passamos a enxergar esse país como território a se evitar. Mas as coisas mudaram, e muito, nos últimos 10 anos. Com um misto de políticas públicas de inclusão social e investimento pesado em segurança, que pode ter a sua origem e forma discutidas, mas não sua eficácia, a Colômbia passou a ser um país em que a segurança não é sequer um dos 5 itens principais de preocupação de seus habitantes.
Conversando com moradores, especialmente motoristas de táxi, conseguimos aprender muita coisa sobre esse valioso país. Jorge, o mais falante deles, nos deu uma aula, especialmente sobre sua cidade, Bogotá!
A capital colombiana viveu anos de terror. Seus moradores não podiam sair da cidade por via terrestre, pois eram emboscados pelas guerrilhas. Havia toque de recolher na maioria dos bairros. Jorge nos contou que nesse período ficou 10 anos sem poder sair das cercanias de Bogotá, já que não tinha condições de comprar uma passagem aérea. Assim como ele, muitos ficaram confinados. Além disso, as cidades começaram a receber um fluxo migratório absurdo. Pessoas do campo começaram a ser "empurradas" em direção aos centros urbanos, pressionadas pelas guerrilhas, que diziam que estavam ajudando o governo, e pressionados pelo governo, que dizia que estavam dando cobertura aos rebeldes!!


Mas as coisas começaram a mudar. O governo colombiano, com a ajuda dos EUA, resolveram combater de maneira intensa a violência, dentro e fora das cidades. Nas regiões de selva e montanhas, uma verdadeira operação de guerra, combate ostensivo. Nas cidades, ao contrário do que muita gente pensa e gosta de propagar, não foi a "tolerância zero" que resolveu o problema, muito pelo contrário!
Primeiro, foram adotadas medidas de inclusão social e melhorias na mobilidade urbana, com a criação de transporte de massa mais eficiente e amplo, como o Transmilênio (que vamos falar mais para frente), teleféricos para a grande massa que habita as favelas nos morros ao redor da cidade (não sei onde já vi algo semelhante) ter acesso mais fácil ao centro e mais de 300 km de ciclovias exlusivas e sinalizadas, com estacionamentos próprios em diversos pontos. Além disso, orgãos administrativos do governo federal e distrital foram levados para o centro da cidade, além das sedes das principais universidades, aumentando a circulação de pessoas e serviços por lá, tudo isso somado a um projeto de revitalização do centro histórico e propaganda turística intensa (quem nunca viu o slogan : "o único risco é você querer ficar"). Logicamente, tudo isso associado a um efetivo policiamento preventivo. Sim, isso mesmo, nada de "mão na cabeça vagabundo"! A polícia colombiana promove segurança sendo educada! Em Bogotá você vê policiais a cada 3 quarteirões, sempre muito educados e prestativos. Várias vezes vimos, inclusive, pessoas nas ruas batendo papo e dando risadas com eles! Como isso é possível? A resposta do Jorge : "Ser policial é uma profissão muito desejada na Colômbia. O salário é cerca de 3 vezes maior que a média e o indivíduo, se começar cedo, pode se aposentar com 45 anos! Mas não é fácil, para ser policial aqui tem que estudar muito e fazer um treinamento intenso!". Simples, não?


Claro que há muita coisa a melhorar e nem tudo está perfeito. O Transmilênio está sempre lotado (aqui eles o apelidaram de "transmilleno", algo como "transmicheio"), o acesso à educação ainda é muito restrito : universidades públicas para os ricos e universidades privadas para os pobres (hum, mais uma coisa familiar), déficit habitacional grande, imposto sobre a movimentação financeira de cerca de 0,25% para ser empregado na segurança (CPMF, lembram?)...enfim, tudo aquilo que conhecemos bem!
Mas uma coisa para mim está muito clara, se houver vontade, o problema da segurança pode ser combatido de maneira eficiente e inteligente, sem precisar de medidas ostensivas e excessivas... e quem não acredita nisso, venha para a Colômbia, além de conhecer um país fantástico, tenho certeza de que vai sentir-se muito mais seguro que em São Paulo!